segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Para reflectir...


Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas.Enfim um animal feito para voar livre e solto no céu, e alegrar quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu o pássaro e apaixonou-se por ele. Ficou a olhar o seu voo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rapidamente, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro.
E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: " Vou montar uma armadilha. Da próxima vez que o pássaro surgir, ele não partirá mais. "
O pássaro, que também estava apaixonado, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objecto da sua paixão, e ela mostrava-o às suas amigas, que comentavam: "Mas tu és uma pessoa que tem tudo" Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava de o conquistar, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido da sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher já não lhe prestava atenção, apenas prestava atenção à maneira como alimentava e como cuidava da sua gaiola.
Um belo dia o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e passava a vida a pensar nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, a sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta. " Porque vieste?" perguntou à morte.
"Para que possas voar de novo com ele nos céus", respondeu a morte. " Se o tivesses deixado partir e voltar sempre, ama-lo-ias e admirá-lo-ias ainda mais; porém, agora precisas de mim para poderes encontra-lo de novo."


 Paulo Coelho in "Onze Minutos"

2 comentários:

  1. Este foi um dos livros de Paulo Coelho que mais gostei.
    Linda e triste, mas faz-nos pensar sobre oque fazemos connosco e com os outros.
    Beijinhos

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  2. Estou a ler este livro, mas ainda não cheguei a esta parte. Também estou a gostar, porque como a Nirvana diz, faz-nos pensar sobre a vida, sobre nós.

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